Coisas estranhas da Venezuela

7 ago

Viver em outro país é como fazer um tour numa savana: você observa o comportamento dos animais, digo, das pessoas, em seu habitat natural, é atingido por eles em alguns momentos, como quando uma zebra se aproxima do seu jipe e te lambe, mas no fim tudo bem. Você volta pro seu hotel e fica com fotos incríveis para colocar no seu instagram e algumas boas histórias pra contar.

Deixo aqui uma pequena lista de coisas que me chamam a atenção observando o dia-a-dia da Venezuela.

1- O Toddy que não acompanhou a evolução da engenharia de alimentos

Uma ótima maneira de trazer a infância de volta, afinal: relembrar é viver! Por aqui, o Toddy continua igual ao dos anos 90 e forma muitas pelotas de chocolate, não sendo capaz nem de mudar muito a cor do leite. Obviamente, dá pra dissolvê-lo bem se o leite estiver quente, mas quem quer leitE quentE em dias de 30°C?

10570489_10202617107404021_30146998751437378_nResultado da mistura feita sem aplicar nenhuma técnica de infância, como colocar primeiro o chocolate e ir adicionando o leite aos poucos, enquanto mexe. Por motivos científicos. 

 Já que leite quente dói no dente, a opção mais popular por aqui é bater a mistura no liquidificador, o que para mim entra na categoria “trabalho excessivo e absurdo”, mas que aqui é considerado nada mais que normal, o que me leva ao segundo ponto:

2- Venezuelanos não têm preguiça na cozinha

Não sei você, mas para mim, usar o liquidificador toda vez que tomo um toddy está além das minhas capacidades. Ok, eu sei, faz espuminha, fica mais gostoso, mas mesmo assim!  Já aqui, isso parece ser a regra e todos ficam felizes com isso. Porém, o que eu entendo ainda menos é a energia dispensada à preparação do café da manhã.  Quer dizer, na minha família, nossa vontade de fazer qualquer coisa de manhã é tão pequena que preferimos comprar pão na noite anterior e comer pão amanhecido no café. Café coado nunca foi visto, porque isso é trabalhoso demais, então dale nescafé! Além de pão, podemos ter também coisas já prontas ou sem necessidade de preparação, como frutas, cereais e bolos preparados anteriormente, ou comprados prontos mesmo, oras! Nos raríssimos dias – sempre feriados, jamais dias úteis – em que minha mãe acorda inspirada e faz ovos mexidos eu pergunto: Quem é você e o que você fez com minha mãe??!?? Além de achar super estranho, confesso que acho bem desnecessário, afinal, comer ovo de manhã é um exagero.

Mas não aqui na Venezuela. O café da manhã mais tradicional é a arepa, sempre preparada na hora. É verdade que a preparação é extremamente simples: misturar a farinha de milho (harina pan) com água e sal, preparar o formato e colocar em uma frigideira untada com óleo. Simples, fácil e até que bem rápido, mas o fogo tem que estar baixo para conseguir assar a parte de dentro sem queimar a parte de fora, e isso vai te levar pelo menos uns 15 minutos para preparar arepa para no máximo duas pessoas. Eu sempre tenho a impressão de que de manhã cedo o tempo parece passar muito mais lentamente, então 15 minutos passam pela minha cabeça como se fossem 30. Ou seja, são quinze minutos que parecem trinta  em que você poderia estar dormindo mais na sua caminha! Ainda pior se você estiver preparando comida para uma família maior, aí o choro é livre.

Olha, se eu tiver que escolher entre comer arepa com 15 minutos a menos de sono ou então comer um pão com manteiga com 15 minutos de sono a mais, escolho a última opção sem pestanejar.

Muitos minutos de sono perdidos num prato só 

Nas vezes em que viajei por aqui com famílias venezuelanas, morri de tédio e sono só vendo eles prepararem o café da manhã, imagina se teria força para fazê-lo! Afinal, não só de arepas se faz um desayuno: tem que passar o café, esquentar o leite, fazer um suco de frutas natural, ou até mesmo dois sucos diferentes, de acordo com a preferência dos familiares, colocar as mil opções de molho na mesa, queijos, presuntos, tudo em variedade. Além disso, venezuelanos adoram ovo de manhã. Só que não basta ser apenas um ovo mexido, tem que ser o tal do “Perico”, que é ovo mexido com muita cebola e tomate, que você obviamente tem que picar, e olha… começar o dia já chorando por causa de uma cebola é demais para mim.

3- A impossibilidade de fazer ligações a cobrar

Saindo do tema “comida” e falando de uma coisa que efetivamente me incomoda, aqui não se poder fazer ligações a cobrar. Não que eu queira ficar ligando para as pessoas sem pagar, até porque detesto falar no telefone. Mas sempre tem aquele momento em que você precisa e muito falar com alguém e não tem crédito. Em geral, isso acontece em viagens. Você está em um povoado, num domingo, onde não existe a menor possibilidade de comprar mais crédito e simplesmente não consegue ligar para seus companheiros de viagem, ou para o seu hotel, ou para o amigo que você pretende visitar aí. Sem crédito você também não tem internet e wifi liberada já nem é tão comum em Caracas, imagina em pequenos povoados.

Até imagino que seja assim em muitos outros países e nem lembro como era na França, mas continuo achando que isso deveria mudar. Aliás, apoio que a revolução traga internet gratuita para todos em todos os locais AGORA!

4- Se dirigir a todas as pessoas com palavras carinhosas 

Já tinha comentado num post anterior sobre o costume que muitas pessoas aqui tem de chamar os outros de “mami” e “papi”. Mas a coisa vai muito além, como termos como “mi amor” , “mi bella/o” sendo usados sem nenhum critério de intimidade, e o que na minha opinião é mais impressionante de todos: MI REINA.

Sim, minha rainha.

Minha reação interna sempre que ouço isso

O motivo pelo qual eu acho isso muito estranho e cômico é bem simples: eu sou de Curitiba. Já pensou você na fila do Mercadorama, plenas 18 horas, se dirigindo à trabalhadora do caixa assim : “Minha rainha, dá pra apurar? ”  ??????????????????????????????????????

Fica a dica de um teste sociológico pra quem quiser.

 

É isso

 

Morrocoy

30 jul

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A lista de praias que “você TEM QUE visitar” na Venezuela é bem grande, pelo menos para um país assim meio pequeno. Quando você conhece uma, lá vem uma lista nova de prais que se você não conhecer, não terá visto nada da maravilha que é a Venezuela. O ranking pode variar um pouco, mas o top 3 quase nunca muda: Los Roques, Morrocoy e Margarita. A primeira que conheci foi Margarita, mas vou contar hoje sobre Morrocoy!

Morrocoy é um parque nacional localizado no estado Falcón, a cerca de 5 horas em carro de Caracas. A querida Amel, a francesa que eu mais gosto no mundo, convidou Sofia, Yula e a mim para ir com ela e o casal de venezuelanos com os quais vive até Morrocoy. Fomos todos juntos de carro e nos divertimos muito, já que o casal Secada é muy chévere! Apesar de ainda não serem avós, nos tratavam a todas como se fossem, o que significa que nos mimavam muito. Lá também encontramos dois amigos da Yula cujos nomes não me lembro. haha 

mapa de morrocoy

Saímos de manhã cedinho e chegamos a Chichiriviche sem enfrentar nenhum congestionamento. Como Morrocoy é um conjunto de ilhas, onde não há nada mais do que as praias, é necessário se hospedar nas duas cidades mais próximas, Tucacas ou Chichiriviche. Tucacas  é bem mais próxima, enquanto Chichiriviche (tche tche re re tche!) fica a mais ou menos 40 minutos do parque. Essas cidades são muito pequenas e não têm muita infraestrutura turística, porém é possível encontrar pousadas agradáveis e  também se deslocar em ônibus.

Morrocoy se encontra num golfo que se chama Golfo Triste. ~Poxa vida~ Devido a isso, o mar simplesmente não tem ondas. Não entendo nada de geografia, e não quero falar coisas muito erradas, mas pelo que entendi, essa parte não recebe correntes de fora, fazendo com que a água se mantenha bem quentinha. O parque é constituído de várias ilhas, às quais se chega em coisas que aqui se chamam “lanchas”, mas, acredite, são só barquinhos. A ida é bem brusca e emocionante, mas nem se comparar ao que passei em Margarita, que é história para outro momento. De toda maneira, fico imaginando se uma pessoa idosa, com menos força, seria capaz de suportar as porradas que o barco dá na água. Mas, o trajeto é não só uma aventura, é também belíssimo! As cores do mar são inacreditáveis e maravilhosas!

mrc14remando no barquinho

O valor do transporte varia para cada ilha e é pago em grupo, por isso vale muito mais a pena estar com uma quantidade maior de gente. A ilha considerada mais bonita é Callo Sombrero. O ideal é chegar cedo e aproveitar o dia inteiro na ilha, para compensar o valor do transporte, que vai de 800 a 1200 bolívares. Nas ilhas há vendedores de comidas, então não é preciso se preocupar muito com isso. Uma coisa que deve ser notada é que em nenhum lugar da Venezuela você pode ter garantia de tranquilidade sonora, então é sempre bom estar de bom humor para ouvir um raggaeton.

Eu fiquei absolutamente encantada. Nunca passei tantas horas dentro do mar na minha vida. É uma piscina natural com aquecimento! Nada mais agradável! Até consegui desenvolver um pouco minhas poucas habilidades de natação. A água é super cristalina e agradabilíssima! Difícil descrever!

Para quem fica em Chichiriviche, também é possível pegar um barco aí mesmo e ir para alguma das ilhas que ficam próximas da cidade. Não são tão bonitas quanto Morrocoy, mas não ficam muito atrás.

É isso.

Viajar = Planejar?

29 jul

Para falar bem a verdade, eu gosto de coisas planejadas. Não consigo evitar ficar ansiosa quando sou obrigada a fazer alguma coisa imediatamente, sem estar preparada antes. Em geral, para mim é uma dificuldade aceitar convites de última hora, do tipo “vamos em tal lugar daqui há uma hora”. Fico nervosa e tenho sempre vontade de dizer não. Confesso que acho meio absurda a ideia de abandonar meus planos de não fazer nada, o que é uma bobeira de minha parte, eu sei. Já há algum tempo tenho conseguido superar um pouco isso, mas volta e meia ainda acabo ofendendo alguém por simplesmente não ser capaz de aceitar convites assim.  De qualquer forma, no meu cotidiano, me sinto muito mais feliz quando sei que amanhã farei isso, que dia tal farei aquilo, e me preparo psicologicamente antes.

 Relax! Take it easy!

Porém, isso não se aplica a viagens. Sinceramente, imagino que seria enlouquecedor tentar viajar se fosse para se sentir frustrado com as oportunidades que aparecem no caminho. Afinal, aproveitá-las é exatamente o bacana de viajar!

A primeira viagem que fiz na Europa foi a Paris. Minha intenção inicial era planejar o que fazer em cada dia, com o intuito de aproveitar ao máximo o tempo. Deu certo? Nem um pouco! Fiquei frustrada? Confesso que lamentei não ter buscado informações com antecedência sobre as catacumbas, que acabei não podendo ver devido à necessidade de uma reserva. Mas tirando essa pequena lástima, tudo bem! Afinal, nenhum momento é realmente perdido!  Por exemplo, acabei visitando o bairro de Montmartre dois dias diferentes, o que é uma perda de tempo, por um lado. Por outro, é divertido andar pela cidade e ter um pouco a sensação de já conhecê-la. Quero dizer, é maravilhoso andar por uma rua pela primeira vez, mas também é legar optar por seguir tal caminho porque você já sabe que ele te levará novamente a um lugar que você gostou.

E a eficiencia???

Não sou muito fã de viagens rápidas com excesso de lugares a serem vistos. Não tenho nenhum interesse em sair de um ponto turístico diretamente a outro sem aproveitar o caminho entre eles.  Por isso, não sinto a necessidade de saber exatamente qual caminho tomar para que tudo seja 100% eficiente. Além disso, logo nessa primeira viagem percebi que não há problema nenhum em deixar algumas coisas para trás. É… talvez eu nunca mais volte para aquela cidade, mas se um dia voltar, além de poder rever muitas coisas, terei outras tantas novas para conhecer. Em Paris, por exemplo, não subi a torre Eiffel. Imagino que para muitos isso seja o mesmo que simplesmente não visitar Paris, mas e daí? Não achei que compensaria as horas de espera na fila. Não fazia meu coração bater mais forte, e fiquei bem feliz sentada na grama comendo um pacote inteiro de pains au chocolat. Isso sim faz o coração disparar!!!! De diabetes!!!!Mas tudo bem. O que importa é que naquele momento achei mais agradável deixar o plano de lado e aproveitar o que tinha vontade de fazer, por menos proveitoso que aquilo pudesse parecer para alguns.

Em outras viagens, encontrei pessoas com estilos completamente diferentes. Algumas que já conheciam bem o caminho e estavam prontas para ajudar a escolher o que e como fazer, pessoas que não planejam nada e também pessoas que planejam absolutamente tudo. Acompanhando essas pessoas, percebi que não planejar nada não é sempre totalmente positivo, pois você acaba tendo dificuldades que poderia facilmente evitar. Por outro lado, ficou evidente para mim que aqueles que planejam muito se frustram facilmente, simplesmente porque as possibilidade das coisas saírem de acordo com o script são muito pequenas. Ou seja, acho legal ser uma pessoa mais “viva” durante uma viagem e não ficar todo o tempo esperando que as coisas simplesmente aconteçam, entretanto, ficar obcecado com a eficiência de uma viagem é uma droga.

Na última viagem que fiz, estava acompanhada por duas pessoas que eram exatamente esses dois opostos. Por um lado, quase não conseguímos passagens de regresso, devido às escolhas do indivíduo X, que era basicamente que organizou a viagem e não é do tipo que se previne. Isso só foi evitado devido à obsessão do indivíduo Y em ter tudo previamente pronto. Contudo, durante muitos dias, Y simplesmente não parecia estar desfrutando, fazia constantemente comentários negativos e não tinha interesse em curtir nenhum dos momentos que se apresentavam para nós, aparentemente porque eles não tinham sido planejados. Por isso, apesar de ser evidente para mim que alguns perrengues podem ser evitados com organização, está também claro como petróleo (como dizem aqui na Venezuela) que é impossível ser feliz viajando se você não é capaz de abrir mão de seus planos inciais.

Bem óbvio, não?  É bem possível que a resposta para tudo na vida seja EQUILÍBRIO, o que às vezes é bem difícil de conseguir. Considero que é super válido se organizar bem em relação às suas despesas, afinal dinheiro ainda não está crescendo em árvore, e por mais que seja sempre possível contar com a ajuda de almas caridosas, não se pode simplesmente sair contando com a existência delas. Também entendo que haja coisas que você simplesmente deseje muito ver, e que haja frustração caso não consiga fazer tudo o que queria. Mas o mais importante é saber aproveitar as oportunidades que aparecem ao invés de lamentar as que foram perdidas. Como dizem, a felicidade é como uma borboleta… hehehehe

É isso.

Praias venezuelanas: o sistema de aluguel

16 jun

Pensei em deixar aqui um post sobre as praias venezuelanas, provavelmente a maior atração do país. Além de serem, em sua maioria, belíssimas e de águas quentes, existe aqui uma praticidade muito grande: um sistema completamente difundido por todo o país de aluguel de cadeiras e guarda-sóis.  Eu não sou a especialista em praias, já que raramente vou até elas. Mas até hoje, nunca vi nada assim no Brasil. Alguém sabe se existe?

E como funciona?

Basta chegar a qualquer praia e encontrar tudo já montado. Costuma haver mais de uma opção: guarda-sol, tenda, cadeira de sentar, de deitar, e até mesa. Em praias mais populares, esse serviço é quase sempre vinculado a restaurantes.

10484044_10202306880848551_4631784079200678574_nLa Guaira, a uma de Caracas, opção para o fim de semana dos caraquenhos, apesar do mar frio e forte.

E isso é bom?

Por um lado, é ótimo! Afinal, além de haver um custo alto na compra desses equipamentos, é bem chato ter que ficar carregando tudo para cima e para baixo. Por outro, você fica dependente dos preços estipulados pelos “alugadores”, que muitas vezes é completamente absurdo. Um turista pode não ter muita noção dos preços comumente praticados e acabar pagando muito mais do que a coisa realmente vale. Porém, como sempre digo, nada é realmente caro para um turista que troca dólares no mercado paralelo.

1907663_10202306881888577_1386726493668740859_nIsla de Coche, belíssima

Quais são as desvantagens?

A primeira coisa que notei foi que pode haver uma segregação da praia de acordo com os preços cobrados, já que você pode acabar tendo que escolher o lugar em que fica pelos valores. Além disso, nas praias em que as estruturas já estão montadas (que foi a maioria das que conheci até agora), muitas partes já são pré-reservadas para hóspedes de hotéis à beira mar, impedindo que você possa ficar ali. É claro que a praia segue sendo a mesma, mas é sempre meio desagradável não poder escolher a parte que te cabe nesse latifúndio. Pelo menos eu acho. Ou sou eu que sou muito mimada? haha.

Além disso, a Venezuela não tem uma cultura de serviços, o que significa que você provavelmente vai ser mal tratado. Isso não se aplica apenas a esse momento, mas sim a todos. Absolutamente todos. Até hoje, só fui bem tratada em um único serviço venezuelano, uma pizzaria em Caracas. De resto, não espere se quer te olhem na cara. Em algumas praias, a abordagem dos alugadores foi exagerada demais, não dando tempo de você respirar. Em um caso, o homem queria nos cobrar 350 bolívares por um guarda-sol e duas cadeiras, sendo que estávamos em 3. Quando dissemos que iríamos andar um pouco, ele ficou revoltado e ficou falando mil coisas que não entendíamos, bem estressado. Andamos bastante e não encontramos nenhum lugar bom, pois os únicos disponíveis ficavam atrás de alguma coisa que tapava a visão do mar: um posto salva-vidas, uma barraca de comida, etc. Isso que a praia não estava nem um pouco cheia, mas vários lugares já estavam reservados para os hotéis. Voltamos para o ponto inicial decididos a pagar os 350 se nos desse uma cadeira a mais, porém o homem jamais apareceu. Decidimos nos instalar assim mesmo, e depois de mais ou menos uma hora, outro rapaz apareceu e nos pediu… 150 bolívares. Vai entender.  Pelo menos, saímos no lucro.

10354813_10202306882768599_6840067341205398936_nPlaya El Yaqye, Isla de Margarita

Em outra situação, um guarda-sol com duas esteiras custava 500 bolívares, o que é completamente absurdo. Ainda por cima, não permitiam que ficássemos lá com nosso isoporzinho, que já estava cheia de água, chá e cerveja pros que gostam de se torrar (hábito aparentemente até mais forte aqui do que no Brasil, o que é impressionante). Isso porque o serviço era oferecido por um restaurante, que queria nos forçar a consumir. Bastou darmos 10 passos para encontrar um local que nos cobrava 350, permitia a caixa de isopor e ainda nos fornecia mais água e chá mate, incluso no preço. Veja só. E ainda por cima, tinha wifi. Que funcionava. Puro luxo caribenho.

 

Bom, apesar dos pesares, acho isso muito prático, principalmente para o turista. Fico pensando o que aconteceria com quem resolvesse levar seus próprios equipamentos, e realmente acho que as chances de quererem proibir são grandes, o que é completamente absurdo. Mas, em geral, todos parecem ficar feliz pela praticidade da coisa.

 

É isso. 

 

O Oriente da Venezuela – parte 2: Turismo

16 jun

Como disse no post anterior, fiz essa viagem com uma aluna, que estava indo visitar a família. Além de me receberem em sua casa por 4 dias, também me levaram conhecer as coisas mais interessantes da região. E olha que viajamos muito hein! Muito gentil da parte deles se deslocarem tanto para que eu conhecesse lugares que eles já conhecem.  E as distâncias entre os locais visitados e a cidade onde estávamos não é nem um pouco curta! Veja no mapa:

 

mapaJá estava quase no Brasil!

Com o número 1, temos Caracas, nosso ponto de partida. El Tigre, onde estávamos hospedadas, é o 2. O primeiro passeio que fizemos foi até o 3, próximo à cidade de Caripe, El Parque nacional El Guácharo, onde fica uma gruta habitada por esse tipo de pássaro chamado Guácharo, existente também no Brasil. Para visitar a gruta, existem horas específicas de tour, e quanto mais tarde, mais curta é a caminhada. Como nós chegamos já às três da tarde, horário do último tour, não tivemos a chance de conhecer todo o caminho, mas eu não me importei. Afinal, a guia nos explicou que os índios que viviam ali jamais iam mais além do que onde a luz do sol alcança, e nós fomos justamente até esse ponto. Dali em diante, acreditavam que viviam os espíritos dos seus antepassados. Eu realmente achei super sensato respeitar essa tradição. HAHAHA.  Confesso que senti bastante medo. Mas o pior era o medo de ser premiada por um pássaro que estivesse se aliviando. Mas isso não aconteceu, ufa.

Clique nas fotos para aumentá-las:

O parque é bem pequeno e é constituído apenas da gruta e de um museu sobre o guácharo, mas é realmente muito bonito e vale muito a pena ser visitado. É cobrado um valor de entrada, porém é irrisório para qualquer turista com dólares. Se não me engano foram 50 bolívares ou algo assim. Achei o passeio maravilhoso e fiquei bem maravilhada!

Na volta, pude ver um pouco mais da cidade de Caripe, que é uma gracinha. Ela fica nas montanhas, e por isso faz mais frio. No centro, as construções são todas coloniais, e lembra  um pouco cidades como Antonina. Nesse dia, estava havendo alguma festa popular e as ruas estavam enfeitadas com bandeirinhas, porém não podíamos ficar mais tempo, já que o retorno demoraria várias horas. O melhor de tudo é que Caripe, assim como a Colônia Tovar, é uma das cidades produtoras de morango, a maior delícia frutística venezuelana, na minha opinião. Por aqui, se encontra morangos enormes e deliciosos em qualquer época do ano, já que nas regiões de montanha o fruto cresce muito bem. Aproveitamos para comer muito morango com chantilly!

No dia seguinte, fomos até o estado Bolívar, que faz fronteira com o Brasil, e visitamos o Parque nacional La Llovizna, onde ficam umas quedas de água do rio Caroní. Isso fica em Porto Ordaz (mapa número 4), que é a única cidade planificada da Venezuela, assim como Brasília. Lá também fica uma usina hidrelétrica, e o EcoMuseo Del Caroní, que tem exposições de artistas nacionais e por onde se pode ver partes da usina.  Como minha aluna é engenheira eletricista, ela sabia muitas informações sobre todos esses paranauês. HAHAHAHAHA.  E o parque la Llovizna, que fica logo ao lado é gigantesco. Havia muitos turistas e muitos locais aproveitando do sol e do calor de 35°C.  O complicado é que, apesar de ser um local super visitado, há apenas um local que vende comida, que estava, por tanto, extremamento lotado. O mais impressionante eram os venezuelanos almoçando sopa. Sim, eu disse sopa. Com 35°. Fico imaginando o que passa na cabeça de uma pessoa: “Ei, quer ir comigo ali no parque comer uma sopa?”. Enfim né, amigos. Voltando às atrações do local, tudo é uma belezura e você pode caminhar muito, pois é realmente muito grande. As cachoeiras não são grandes e também não estavam muito cheias, já que não está chovendo quase nada este ano. Por isso, não eram impressionantes, porém lindíssimas, assim como todo o resto do parque. Eu achei encantador. Acho que isso de morar em Curitiba me fez desenvolver carinho por parques, num geral.

E a estrada também estava muito bonita. Passamos pela Puente Orinoquia, que é uma ponte estaiada, como a que estão fazendo em Curtiba. Ela foi construída pela empresa brasileira Odebrecht, onde eu dou aulas. Logo ao lodo também tem um mirante TOTALMENTE illuminati. AHAHAHA.

Enfim,

é isso.

O oriente da Venezuela – Parte 1: visão geral

9 jun

Pelo nome, já se percebe que é a região da Venezuela em que vivem os chineses, que estão aqui para ajudar a deixar tudo dominado tá tudo dominado e também onde há uma zona de treinamento petralha.

Mentira.

 

Nem os venezuelanos sabem muito bem como o país está dividido, então não coloco a mão no fogo pela veracidade desse mapa. Eu mesma me peguei pensando sobre as divisões regionais do Brasil- para que serve?  Como foi feita a divisão? So many questions! Mas a coisa é mais ou menos a seguinte: no Oriente o calor é mais forte e as arepas (e cachapas, e empanadas) são feitas com milho de verdade e não com farinha pronta. Uma verdadeira gostosura.

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Arepa (a redonda) e cachapa cortada no meio versão TRU do interior e verdadeiramente mais saborosas que na capital.

A viagem desde Caracas levou longas 8 horas, mas o mais difícil foi mesmo a volta, que durou umas 13. A cidade em que fiquei se chama San José de Guanipa, no estado de Anzoátegui. Fica perto se um povo chamado El Tigre, onde dizem que havia muitos…tigres. E eu achando que não tinha tigres na América do Sul.  A cidade é petroleira e quase todos os moradores são trabalhadores da PDVSA, que é a Petrobras daqui. Há também muita gente da Líbia, que veio para cá pelo mesmo motivo.

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Esta é uma das muitas chamas que estão nos arredores da cidade. As estradas que passam bem perto de onde há extração de petróleo têm vigilância completa por câmeras – dizem- e são zonas de proteção da PDVSA. Durante a noite, o céu fica com tons de amarelo e vermelho. Achei meio apocalíptico. Deve fazer um malzão pra saúde. Também fiquei pensando se isso tudo resolver explodir. HA!
Mas isso tudo está nos arredores e não na cidade em si.

Segundo o que me explicaram, o estado de Azoátegui é de maioria chavista, com muito mais políticos eleitos do governo que da oposição. Por isso, aqui tem muito mais imagens de Chaves e de seu partido, PSUV, que em Caracas. Aliás, quase não vi nenhuma imagem a favor de Caprilles, ou contra Maduro pelas ruas.

Achei muito interessante conhecer um pouco do interior da Venezuela. A vida é, obviamente, bem diferente de Caracas. Aqui as pessoas ficam na rua até tarde, bem de boa. Em Caracas, muitos não gostam de estar fora depois das cinco da tarde. Isso mesmo, cinco. Outros consideram o limite as sete. Uma coisa negativa é que as pessoas conseguem o feito incrível de dirigir pior que na capital, o que é realmente impressionante. Porém, isso parece se aplicar a essa cidade especificamente e não a todo o Oriente. A impressão geral que tive é de que nas pequenas cidades daqui, chamadas de pueblitos, a vida pode ser bem agradável. Porém, não encontrei nenhum venezuelano que concordasse comigo pois, segundo eles, nem mesmo esses lugares são seguros. Aí já não sei se é exagero deles ou não.

Fiz essa viagem a convite de uma de minhas alunas, que estava indo visitar a família na semana santa. Foi muito divertido e interessante. Aqui não se comemora a Páscoa, apenas a semana santa. Ou seja, não tem nada de chocolate nem de coelho ovíparo. As tradições são não comer carne vermelha na sexta-feira e malhar o Judas, porém no domingo, e não no sábado de aleluia. Na sexta fizeram um jantar típico que estava muito gostoso: arroz branco, legumes cozidos, casabi (feito com aipim, é quase como uma tapioca mais rígida) e uma torta de cação, tradicional do Oriente, em que a massa é feita apenas com clara de ovos, o recheio é de cação e há camadas de platano (banana-da-terra). É bem diferente mas o gosto lembra bastante empadão.

HMMMMMMMMMMMMMM

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É isso

Aprender espanhol na Venezuela

22 abr

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Como todos sabem, a língua espanhola varia muito em cada região. Quando se escolhe um país para ir estudar o idioma, também se está escolhendo uma de suas variações. Isso tudo sem levar em conta as variações dentro de cada país, e nem vamos pensar em todas as variantes existentes ! Como já diz a canção:

Que difícil es hablar el español!  Si lo aprendes, no te muevas de región! 

E como é que as pessoas falam aqui?

Chévere. Aqui as coisas não são boas, são chévere. Hola, como estás? Chévere. Segundo a Wikipedia, a palavra veio de um idioma da Nigéria e foi introduzida em Cuba, sendo difundida no mundo latino através das canções cubanas. Os venezuelanos, porém, tomam o termo como sendo 100% nacional, e é certo que aqui ele é super utilizado cotidianamente há muitos anos. Hoje em dia, já se escuta também na Colômbia e no Peru, e sabe-se lá onde mais. Lembro-me de ter conversado com um cara de Bogotá num vôo Berlin-Lyon e dele descrever tudo na Alemanha como chévere.

Uma coisa que não é exclusiva daqui, mas que eu acho muito bizarra, é a utilização dos termos mami e papi. Eu achava que seria uma coisa mais entre casais (fiz essa dedução pelas músicas do Pitbull, haha) mas as pessoas usam ela no dia a dia para se dirigir a uma outra pessoa. Então, você pode ouvir alguém dizer Cómo estas mami?. Mas me parece que pode haver uma distinção social para o uso dos termos. Muitos me disseram que isso é horrível e que não usam jamais. Achei também curioso que ontem mesmo ouvi um frentista dizer a um motorista Dale papi, o que eu achei estranhíssimo, pois até então nunca tinha visto homens se falarem assim. Já quando a palavra é dirigida a crianças, acho que não há tanto preconceito.

Mas, para mim, a característica mais marcante do espanhol venezuelano é a não pronunciação do S. Ou seja, em palavras como hospital, dizem apenas hopital. Caracas é dito quase sempre Caraca. Em outros momentos, além de não pronunciar o S, também se pode produzir um som aspirado em seu lugar. Não vou sair afirmando, mas essa aspiração soa como o CH alemão como em nacht. Ouço isso no meio de palavras como este, mas nunca no fim de palavras. Muitos dizem que isso é coisa de pessoas sem escolarização, mas não é verdade. Todas as classes sociais produzem o mesmo fenômeno, basta ver um pouco de televisão para ver. Porém, existe muita variação pessoal: alguns nunca pronunciam nada, mas a maioria das pessoas produz as duas opções, dependendo da palavra (só não fiz uma descrição linguística disso ainda,para ver qual a lógica por trás. Aliás, nem vou fazer. Hahaha!) Isso acaba sendo uma dificuldade para eles ao aprender outro idioma, já que eles pensam que estão pronunciado o S quando, na verdade,  estão fazendo esse som aspirado, ou som nenhum. Para mim, é também mais difícil aprender palavras novas, além da conjugação dos verbos, já que em algumas situações não está evidente que há um S na escrita. Mas eu acho isso super charmoso e está claro que a queda do S é um fenômeno frequente nos idiomas romance. Venezuela super a frente na evolução do espanhol!  #Prafrentéx Claro que isso não acontece só aqui, mas bom, não conheço os outros lugares, por isso não vou afirmar 🙂

Outra coisa que não sei se é só venezuelana mas que é bem notável é o uso da palavra este como apoio. Ou seja, as pessoa falam a palavra apenas como forma de preencher o tempo que tomam pensando em algo, como nós brasileiros fazemos com e. E, claro, pronunciam apenas ete.

Como eu disse, acho o espanhol daqui bem fofo (particularmente, não gosto muito do som do S – cada um com sua mania) e, se fosse escolher um lugar pra aprender o idioma, seria em na ilha de Margarita. Já pensou, que vida boa?

imagesAssim são as publicidades de turismo do país.

Último dia em Paris: Versailles e os trens do mal

19 abr

Finalmente resolvi contar sobre meu último dia em Paris! Texto escrito em dois momentos: em algum dos muitos dias desocupados em Lyon, e outro agora, direito do interior da Venezuela. Ai como sou ryca e viajada!
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Lyon resolveu ter seu momento curitibano e trouxe muita chuva nessa segunda-feira de outono. As roupas para lavar e as compras a fazer foram deixadas para trás, substituídas por café e bolachas de chocolate. Então, quase um mês depois, finalmente resolvi vir aqui contar sobre o último dia de minha visita a Paris.

Como já disse em outro post, desde o início meus planos para a viagem deram errado. A ideia era visitar o castelo de Versailles na quinta feira, dia de pouco movimento. Foram várias coisas que fizeram com que eu fosse adiando cada vez mais essa viagem, e no final bateu aquele desespero achando que não ia conseguir ir. Mas eu queria muito visitar o castelo, e ficaria indignadíssima se não fosse, então eu fui no último dia, mesmo sabendo que isso poderia atrapalhar minha volta pra casa, que seria de carona, assim como a ida. Sabe quando você sabe que alguma coisa vai dar errado? Então, eu sabia. E é claro que realmente aconteceram alguns imprevistos bizarros!!!

Mas, oras, vamos começar pelo começo, e no começo deu tudo certo. adendo posterior: uau, isso define a vida, não? #Emo

Eu e o Roberto acordamos cedo e fomos pegar o trem. Dentro de Paris, as linhas de metro são muito fáceis de entender, com várias placas e tudo mais, já os RER (trens/metro que circulam por toda a região Ile de France, onde ficam Paris e Versailles) são bem mais confusos e difíceis de entender. Sinceramente não sei o que dizer para ajudar alguém que esteja planejando a ida de Paris a Versailles, por que chegando nas estações vocês não vê placa nenhuma que te ajude, nem informações sobre o trajeto dentro dos trens. Eu segui as dicas que vi nesse blog, que me foram muito úteis. Mas isso não foi suficiente. Pelo que ela diz (e eu também percebi isso depois), tem uma linha que vai direto até a estação final em Versailles. Nós pegamos uma outra, tivemos que descer numa estação minúscula sem nenhuma placa e esperar outro trem sem nem ter certeza se era aquela que tínhamos que pegar. Quando esse outro trem chegou, vimos que era ele mesmo, já que estava cheio de turistas. Mas não sei dizer onde esse trem passa em Paris, muito menos por que nós seguimos todas as placas que indicavam “Château de Versailles” e acabamos pegando um trem que não ia exatamente pra lá. Eu suponho que tenha duas linhas que parem no mesmo lugar, e afinal de contas as duas te levam, de uma forma ou de outra, onde você quer chegar. Só que acho muito ruim não ter informações claras, levando em consideração que Versailles é um destino obrigatório para todo o mar de turistas que está em Paris diariamente. Eu imagino que qualquer francês habituado a viajar de trens entenderia tudo perfeitamente, mas para os turistas a falta de informações claras complica.

Finalmente chegamos à estação de Versailles, depois de meia hora, eu acho. Daí foi muito fácil, é só seguir todos os turistas e em poucos minutos chegamos ao castelo.

O dia estava bem bonito, com sol, apesar do frio. Tinha muitos turistas, naturalmente, mas não achei que estava tão lotado assim. A entrada do castelo é essa aí, que fica na parte de trás. Lá você pode comprar o bilhete de entrada, que não é unificado. A entrada no castelo principal é separada do Domaines de Marie Antoniette. Já o jardim é liberado gratuitamente para todos. Como não tínhamos muito tempo, já que eu precisa pegar minha carona as 17 horas em Paris, escolhemos entrar apenas no castelo principal e visitar os jardins. Não fiquei tão chateada de não ver a outra parte, por que pretendo ir lá de novo durante o verão, quando as fontes estão funcionando – comentário posterior: não o fiz.
Assim como no Louvre, não tive que pagar entrada, apenas apresentei minha declaração de residência fixa e meu passaporte.

Continuação tardia
Lá dentro, as coisas são muito legais. É oferecido gratuitamente um aparelho de áudio com várias explicações. Meus lugares favoritos eram os quartos, mas o famoso salão se espelhos também é maravilhoso, claro. Porém, fiquei um tanto irritada com os grandes grupos de turistas chineses que estavam lá, tirando mil fotos e falando super alto. Mas tudo bem.

Como já era outono, as estátuas dos jardins estavam todas cobertas por panos brancos e as fontes não estavam ligadas. Tudo continuava sendo muito agradável, mas com certeza vale mais a pena ir lá no período entre a primavera e o verão, ou então em pleno inverno, mas aí com uma sensação completamente diferente. De qualquer forma, acho que todos os momentos têm sua beleza, e o meio termo entre sol e frio que vi, com o inicio da preparação para o inverno, foi bem bonito.

Depois de comermos nossos sanduíches, voltamos para Paris. E aí sim a coisa ficou complicada. Pegamos um RER que parava numa estação em que podiamos fazer conexão para voltar para casa. Porém, no meio do caminho, eis que surge uma voz do além e, em baixa qualidade, anuncia que dali em diante não pararia em todas as estações previstas, que apenas uma parada seria feita a seguir e então seguiria direto ao aeroporto Charles de Gaulle. Olha, nunca fui nesse aeroporto, mas sei que é longe demais da conta! O que aconteceu é que estavamos ambos sentados e já mortos de cansaço. A cena poderia ser de filme: a voz fez o anúncio e, absortos em nosso cansaço, nem demos bola. Alguns segundos depois nos olhamos com cara de PUTAIN! CORRE!!! mas aí, minha gente, já era tarde. Então, fica a dica: os trens em Paris podem ser, além de complicados, sentimentais, mudando seu caminho a qualquer hora. Chato, não?

Então, fizemos uma viagem bem maior que o previsto até a tal estação antes do aeroporto, muito emputecidos. Chegando lá, ficamos uns 20 minutos esperando outro trem na direção oposta, com muito medo que aparecesse um fiscal, já que nossos bilhetes não eram válidos para o sentido contrário, mas não podiamos nos dar o luxo de pagar por outro. Até que finalmente chegou o trem e então ok.

Que ok que nada, porque alguém fez o favor de se jogar na frente do trem!!!!!!!!!!!!!!

Foi muito indignante. Suicídio é um tema delicado com qual todos deveríamos ter sensibilidade. Mas dá para perceber a má sorte que estavamos tendo. Passamos duas horas e meia parados.

Depois disso, acabei chegando atrasada até minha carona, que foi compreensiva. Voltamos apertados em 3 na parte de trás de um carro pequeno, com um piá que tinha bafo e outro que se considerava um produto satisfatório (??) do sistema de escolas de Belas Artes francês (??). Chegamos após o previsto em Lyon, não exatamente pelos meus 15 minutos de atraso e sim pelo congestionamento na saída da capital, de forma que já não havia ônibus na cidade.

Quem conhece Lyon sabe que na estação de Perrache há sempre um monte de famílias de ciganos dormindo, ou melhor, morando. Minha dúvida era se eu dormiria na praça ou com esse povo no túnel do tramway, já que minha carona não demonstrou nenhum remorso em me largar lá à uma da madrugada. Bem gente boa!

Mas como existem pessoas boas nesse mundo, a moça que veio esmagada comigo pediu para seu namorado, que a foi buscar, me levar até minha casa. Muito obrigada, moça!

E assim chegou ao fim minha estadia na cidade luz, a capital do amor, e caraca! Devia ter percebido que isso era mau agouro!!! #Brincadeirinha

Colônia Tovar

16 abr

Finalmente saí um pouquinho de Caracas!  E lá vão algumas fotinhos!

Neste fim de semana visitei a Colônia Tovar, uma cidadezinha que fica no estado de Aragua, ao oeste de Caracas. A viagem de carro foi super rápida,  cerca de 1 hora e meia (57 km),mesma distância que estou acostumada a fazer na rota Curitiba-Rio Negro. A volta, por outro lado, demorou muito mais, já que ficamos 1 hora presos num congestionamento, como é de praxe na Venezuela.

IMG_1009Como se vê, é uma colônia alemã. Nessa foto está a igreja da cidade, que curiosamente é católica, e não luterana. Destaque para o cachorro, divando logo à entrada.

IMG_1016Espiando a missa

A cidade é irmã de nossa querida Blumenau, por razões óbvias, mas é muito menor. Seu sustento é a base de turismo e do plantio de frutas vermelhas, verduras, legumes e flores, que são vendidos em feiras por quase toda a cidade.

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IMG_1002Tudo o que vi estava muito bonito. Tanto os legumes quanto as frutas eram muito grandes e com cores vivas. Não resisti e comprei uma bandejona de morangos. O preço pode ter uma pequena variação entre as barracas, então comprei na mais barata, por 60 bolívares.  É incrível como o clima da Venezuela é maravilhoso, permitindo a produção de frutas vermelhas, que se encontram facilmente por aqui por um preço baixo. Bom, nada aqui é efetivamente barato além da gasolina, mas em comparação com o preço geral das coisas, é bem barato.  Comparando com o Brasil então, nem se fala.

Além disso, vendem-se várias outras coisas, como vinhos, geleias e molhos variados, tudo produzido lá. Além dos morangos, comprei um pacote de suspiros e fiz minha sobremesa favorita em casa, merengue. Para mim, morango com suspiros já configura merengue. Se você acha que não, okay, respeito sua opinião. Mas você pode também apenas provar o prato mais típico do lugar, que são as fresas con crema, ou seja, morango com chantilly. Eu não provei por dois motivos: primeiramente porque algo me dizia que não seria tão saboroso quanto o merengue da minha avó (já que não tem suspiros e não tinha certeza se o chantilly seria feitincasa) e não quis me decepcionar; e também porque já me havia empanturrado com um perro caliente alemán, que é um cachorro quente com repolho, que só me lembro de ter comido na casa do meu querido opa Stefan, e acho delicioso. Tem também o perro caliente polaco, que tem uma linguiça diferente. Aliás, tive a leve impressão de que o que me deram foi o polaco (a vina era brancona) e meu amigo Javier acabou com o alemão (com aquela vina vermelha gigante). Mas não entendo muito de linguiça pra sair julgando. De qualquer forma, estava muito bom. Se não me engano, o dogão custou 90 bolívares.

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1509992_10201940305124387_1422545643168574865_nJunto com os dois pacotes de suspiro, compramos também essas bolachas. Os três saíram por 100 bolívares.

Como é de se esperar de uma pequena colônia, não há muito o que fazer além de comer e andar pela cidade. Eu achei o local muito bonito e agradável. É muito parecido com um pequeno povoado que fica no Ávila (montanha de Caracas) e que visitei no mês anterior, só que é bem mais bonito. Também não é nada impressionante para quem é do sul do Brasil, mas é com certeza bem divertido e me fez sentir em casa. Não estava fazendo exatamente frio, porém o vento estava geladinho, o que foi um alívio. O clima da Venezuela é peculiar e eu ainda não entendo muito bem, mas pelo que me foi dito, a melhor época do ano para visitar a colônia seria no “inverno”, entre Julho e Agosto, quando há mais flores.  Isso, para mim, não faz o menor sentido, já que no inverno as flores deveriam todas morrer de frio, coitadas. Mas aqui não, é tudo esquisito.

IMG_1027Rosa

Ah, e claro! Sendo uma colônia alemã, não poderia faltar a produção de cerveja (por mais que, pelo que disseram, a fábrica tenha sido movida de lá). Provei a achei muito boa, porém não se encontra em todos os estabelecimentos.

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É isso.

Saga ruiva 2 – Alergia e Mix

17 mar

Contrariando minhas expectativas, após a descoloração com soap cap que fiz e contei aqui, as coisas foram até que bem simples! Algumas chatices aconteceram, mas foi tudo fácil de resolver e nada me irritou tanto quanto no começo, já que o cabelo não estava mais horrível. Vamos continuar de onde parei:

O soap cap deixou o cabelo com uma cor bem satisfatória. Não foi necessariamente o que eu esperava, mas a verdade é que eu sabia que não conseguiria um tom exato e específico (muito difícil!) e por isso estava pronta pra qualquer coisa. Por sorte, acabei gostando bastante da cor. Poderia até ficar um tempo sem tingir novamente, mas tive a impressão de que a descoloração abriu demais as escamas, deixando o cabelo ressecado e com cara de mal cuidado. Por isso, decidi comprar uma tinta e selecionei a Majirel 7.4, por ser mais barata que a Keune, ser fácil de encontrar e ter resultados lindos em várias pessoas.

Com minhas experiências anteriores, já sabia que minha raiz abre fácil demais, então usei ox 30 no comprimento e de 20 na raíz. O problema foi que não encontrei oxigenada da Loreal para comprar e acabei escolhendo da Yamá, pois já conhecia a marca. Misturei dois terços de um tubo de Majirel com a oxigenada de 30 e assim que iniciei a aplicação comecei a sentir uma coceira na pele. Continuei mesmo assim, e misturei o último terço da tinta com a ox de 20, para aplicar na raiz. A coceira continuava mas achei melhor continuar mesmo assim,  até que cheguei na parte de cima da cabeça e não pude suportar a ardência nos olhos. Consegui deixar a tinta agir por menos de 10 minutos (fui bem insistente) e fui para o chuveiro lavar os cabelos. O resultado, na verdade, foi bem bom: a cor ficou praticamente a mesma que estava só com o soap e com cara de mais saudável. O único problema foi que a tinta não teve tempo de reagir na parte de cima e a raiz continuou castanha, pois houve um certo intervalo de tempo entre todos esses procedimentos, dando tempo da raiz aparecer. #Chateada

No dia seguinte, fui até a loja de cosméticos em que tinha comprado a tinta e contei o ocorrido. Para igualar a raiz, me indicaram um tonalizante da Alfaparf, por ser mais suave e poder até ser usado por grávidas e pessoas que fazem tratamento de quimioterapia, segundo a vendedora. Comprei a 7.0, pois era o que tinha, com sua emulsão reveladora, e misturei com o banho de brilho Cobre da Keraton, que já tinha em casa, dando assim o tom acobreado. Surpreendentemente, deu certo! Continuei com coceira no corpo todo por umas duas semanas, mas estava com o cabelo bonito, então tudo bem! hahaha

Depois disso, decidi que bastava retocar a raiz. Claro, fiquei tentada a tingir o cabelo inteiro no mês seguinte, mas acabei me convencendo que não era necessário, pois danificaria muito o fio e acumularia tinta, causando escurecimento. Devido à alergia, fiquei bem preocupada, pois achei que a culpada poderia ter sido a tinta Majirel, afina, eu já tinha utilizado oxigenada da Yamá antes e nunca tive problemas. Estava feliz com a cor e não queria ter que mudar novamente de tinta e correr o risco de estragar o que tinha conseguido. Como minha mãe também pinta o cabelo, ela comprou uma Majirel do tom dela e eu fiz a aplicação, dessa vez com oxigenada da Loreal também e não tive problema nenhum. Então, decidi arricar e no mês seguinte comprei novamente a Majirel 7.4 e apliquei 1/3 do tubo na minha raiz com ox de 20 da Loreal. Por sorte, nada de alergia! 

O problema dessa vez foi que, mesmo com a oxigenada mais baixa, de 20 volumes, e o tempo de pausa curto (cerca de 15 minutos), a raíz ficou mais clara que o comprimento. Não foi nada demais e, na verdade, mal se notava. Mas eu podia ver que a raiz tinha um tom muito mais dourado, e bem bonito, sendo que o resto do cabelo puxava muito mais pro laranja e pro vermelho, dependendo da iluminação. Minha explicação pra isso é que esse tom da Majirel tem muito dourado na composição, apesar de não ter reflexo .3 em seu nome. É por isso que em muitas pessoas ela desbota pro loiro facilmente. Uns amam, outros odeiam. Esse é um pouco o problema das tinturas: cada uma tem sua fórmula e as numerações servem como base mas não representam necessariamente a realidade. Bom, meu fio natural também tem reflexos dourados e por isso acabou abrindo pra um tom de ruivo muito mais claro, puxando pro loiro e sem nada de laranja nem de vermelho. Ou seja, no meu fio virgem, essa tinta abre quase pra um strawberry blond. Já o comprimento, que já foi tingido de preto e vermelho, a tinta reagiu de outra forma, mesmo após as muitas decapagens.

Eu achei o tom da raiz bem lindo, mas com tempo e os outros retoques, se notaria mais a diferença com o comprimento e eu não estava nem um pouco disposta a continuar tentando clarear meu tom.  Era evidente que o reflexo que me faltava era o vermelho, pois o meu comprimento por vezes mostrava essa cor, e por outras refletia laranja, sobre tudo ao sol. O laranja se consegue justamente com a junção de reflexos dourados com vermelhos, por isso supus que um mix 0.6 (vermelho) me bastaria. Então, quando chegou a hora de retocar mais uma vez, comprei o mix da Wella e adicionei uma quantidade minúscula à minha mistura de 1/3 de Majirel com cerca de 40 ml de ox 20. Esses mix são fortíssimos e é necessário sempre ter muito cuidado com eles. Eu coloquei mais ou menos 1,5 cm, mas fiz isso no chute. O resultado foi perfeito! O reflexo deu super certo com o comprimento.

Desde que descobri que precisava do mix, retoquei a raiz 3 vezes e não mexi no comprimento. Os resultados tem sido super satisfatórios todas as vezes. Aí eu fico pensando, será que um cabeleireiro iria se tocar disso? Eu acho que só se for algum especialista em ruivo acobreado mesmo. O fato é que se eu fosse num profissional e saísse com a raiz mais clara após utilizar uma ox mais baixa que no comprimento com a mesma tinta, eu iria pensar simplesmente que não tinha solução. Iria achar que meu cabelo é louco assim mesmo. Como eu mesma faço tudo, acabo conhecendo melhor meu próprio fio. Isso não significa que tudo sempre dá certo. Pelo contrário, como se vê, muita coisa deu errado. Mas com o tempo você vai aprendendo a encontrar as soluções mais adequadas para você, e elas quase nunca são as mesmas para uma outra pessoa. Basta ter paciência de pesquisar bastante ao invés de sair fazendo tudo na louca.

eu no parqueLaranja no sol de Caracas, cara de boba após tomar sorvete de maracujá